O CORVO
Vivia eu
Dia solitário
Dia triste
Cabeça vazia
Pensamento oco
Quando me chegou
Um corvo
(Não sei se lúgubre
Não sei se aziago
Não sei se ogro)
A pedir-me pouso
Explicou:
Vinha de um tempo
Já prescrito
Fora despejado
De uma cripta
Da qual
Tinha documentação
Legalizada
(Firma reconhecida)
Compreendi
(Sei o que é burocracia)
Aquiesci
(Precisava
Mesmo
De companhia)
E lá se foi a ave
Agradecida
Buscar esposa
Buscar concubina
Instalaram-se
Os três
Na minha referida
Caixa craniana
Criaram descendência
(Eu criei dependência)
Ali viveram
(Melhor dizendo:
Ali vivemos)
Até o momento
Em que o espaço
Ficou parco:
Bateram asas
Bateram em retirada
Levando apêndice
Vivia eu
Dia solitário
Dia triste
Cabeça vazia
Pensamento oco
Quando me chegou
Um corvo
(Não sei se lúgubre
Não sei se aziago
Não sei se ogro)
A pedir-me pouso
Explicou:
Vinha de um tempo
Já prescrito
Fora despejado
De uma cripta
Da qual
Tinha documentação
Legalizada
(Firma reconhecida)
Compreendi
(Sei o que é burocracia)
Aquiesci
(Precisava
Mesmo
De companhia)
E lá se foi a ave
Agradecida
Buscar esposa
Buscar concubina
Instalaram-se
Os três
Na minha referida
Caixa craniana
Criaram descendência
(Eu criei dependência)
Ali viveram
(Melhor dizendo:
Ali vivemos)
Até o momento
Em que o espaço
Ficou parco:
Bateram asas
Bateram em retirada
Levando apêndice
Um comentário:
Já faz um tempo que não passava por aqui, Zélia. Durante esse tempo, vi inúmeros poetas de ótimos blogs abandonarem o esforço de publicar lirismos. Fico muito contente em retornar ao teu espaço e notar que seu verso continua contundente e certeiro. Adoro seu estilo rápido e cortante. Certas poesias são imersões calmas; as tuas são redemoinhos. Sou um grande admirador. Obrigado por continuar deixando os corvos se instalarem em sua mente.
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