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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O CORVO

Vivia eu
Dia solitário
Dia triste
Cabeça vazia
Pensamento oco
Quando me chegou
Um corvo
(Não sei se lúgubre
Não sei se aziago
Não sei se ogro)
A pedir-me pouso

Explicou:
Vinha de um tempo
Já prescrito
Fora despejado
De uma cripta
Da qual
Tinha documentação
Legalizada
(Firma reconhecida)
Compreendi
(Sei o que é burocracia)
Aquiesci
(Precisava
Mesmo
De companhia)
E lá se foi a ave
Agradecida
Buscar esposa
Buscar concubina

Instalaram-se
Os três
Na minha referida
Caixa craniana
Criaram descendência
(Eu criei dependência)
Ali viveram
(Melhor dizendo:
Ali vivemos)
Até o momento
Em que o espaço
Ficou parco:
Bateram asas
Bateram em retirada

Levando apêndice
LAVRA

Olhei
O pedaço de pasto
Pensei:
Vou plantar bosque
Para os passarinhos
Que terão frutos
Sementes
Galhos para seus ninhos

Arregacei as mangas
Lancei-me ao serviço
Logo
Tudo era sibipiruna
Oiti
Angico

Chamei as aves
Entreguei-lhes
Escrituras e chaves
Conferi minhas asas
(As penas
Haviam sido cortadas)
Já estavam aptas

Voei

DESCARTE

Tirei a tristeza
Do armário
Dei um trato
Levei pra passear

Ela empolgou-se
Na rua
Embriagou-se
Com o perfume
Da murta

Ficou por lá