Minha lista de blogs

quarta-feira, 31 de março de 2010

Permissão


Permita-se
Dançar
Um tango
Um bolero
Uma valsa

Usar
Uma joia falsa

Coentro
Em lugar de salsa

Em vez de barco
Balsa

Permita-se
Sorrir
Ainda que
A vida
Não tenha
Assim
Tanta graça

terça-feira, 30 de março de 2010

Galo-das-trevas


Penso
Em minha vida
Como sendo
Um galo-das-trevas

Das treze velas
Vejo doze
Já apagadas

Sinto-me
No último
Dos ofícios

Mas
Não me
Desespero

No final
De toda
A paixão
Vem a páscoa

segunda-feira, 29 de março de 2010

Dúvida


Silêncio
E solidão
Perfeita
Combinação
Para levar
À loucura

A noite
É escura

O pio da coruja
Assusta

Ficar ou partir?

As ausências
Todas
Têm me chamado

Mas
O aqui
É concreto
E o acolá
Abstrato

Tenho medo
De tudo
Que não vejo

Porém
Se for para seguir
Que seja cedo
Com o sol
A despontar

Sei lá
Quanta senda
Quanta fresta
Quanta fenda
A me esperar

Será preciso
Enxergar
O grafite
Do destino
No traçado
Da lenda
Sobre a folha
Do tempo

Meu andar é tão lento...

domingo, 28 de março de 2010

Língua Portuguesa


Macau
Goa
Lisboa

Minha língua
Vaga
À-toa
Querendo falar

Vaga
Vai e vem
Para além
Para aquém-mar

Devagar
Balouça
Sobre as ondas
Dança
Sobre as vagas

Atinge plagas
Aonde
Quisera eu
Chegar

sábado, 27 de março de 2010

Costura


Pois bem

Tenho um sonho
Até agora
Somente
Alinhavado

Não consigo
A costura
Conclusiva

Falta muito
Casas
Debruns
E
Chuleados


Mas...
Tenho um sonho
Alinhavado

sexta-feira, 26 de março de 2010

Dois tenores


Meio-dia

Suponho
Ser a hora
Menos provável
Para um galo
Cantar

A despeito
Deste meu
Pensamento
Um galináceo cantor
Das imediações
Emite
O seu canto

Por coincidência
(E para meu espanto)
Ouço
Ave Maria de Schubert
Na voz
De famoso
Tenor

(Deve ser um CD
Na casa
Do Valmor)

Os dois cantos
Simultâneos
Fazem o momento
Pungente

Penso
Em lugares
E gente

Vontade de partir...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Vencida


Hoje estou vencida
Absolutamente vencida

Baixei a guarda
Depus as armas

Até a última
Palavra
Monossílaba

quarta-feira, 24 de março de 2010

Pôr-do-sol


Pelo retrovisor
Vejo
O pôr-do-sol
Nesta tarde
Mais do que
Bonita

O encanto
Exorbita

Minha alma
Quase que
Não acredita
Naquilo
Que o olhar
Registra

Acontece
Um incêndio
No céu

Nuvens
[ Labaredas
De um descomunal
Fogaréu ]
Devoram
O anil

Embevecida
Reflito
Sobre o papel
Que desempenho
Ante o palco
Desta vida:
Espectador
[ Estupefacto ]
Da obra
Do Artista

domingo, 21 de março de 2010

Verde



Cansada
Deste mister
De semiviver
Saí sem rumo

Caminhei...
Caminhei...

Não houve prado
Que eu
Não atravessasse
Vereda
Que não percorresse
Verde
De que não gostasse

Verde-água
Verde-azul
Verde-abacate

Verde-gaio
Verde-cré
Verde-esmeralda

Verde-musgo
Verde-cinza
Verde-negro

Verde-oliva
Verde-escuro
Verde-claro

Quanto verde!
Paleta irrecusável

Guardei tudo
No estojo
Da memória
E voltei

Não sem antes
Me embebedar
Com o vinho
Aveludado
Do verde mar

quinta-feira, 11 de março de 2010

Saudade


Olho o céu

Céu
Querendo ser
De inverno

Azul
Azul
Como o dorso
Metálico
Brilhante
Da ofídica
Paranabóia

Entro em paranóia

A saudade dói...

quarta-feira, 10 de março de 2010

Acinte


Não sou exatamente
Saudosista
Não superestimo
O passado
Ando
De braço dado
Com o novo
Quero sempre
Abraçar
A novidade

Tempo bom
É o tempo
Que se vive
Independentemente
Da idade
Fui feliz
Aos sete anos
E aos vinte
Espero
Com ansiedade
O ano seguinte
E assim será
Por toda
A eternidade

Mas devo confessar
Sou alvo de acinte
Por parte
Da velha praça
Da minha cidade
Ninguém mais
Que eu conheça
Alí passa
Pra que o dia
De domingo
Tenha graça
E eu possa
Como outrora
Recitar:
Bom dia, Dona Tereza!
Bom dia, Seu André!
Bom dia, Seu Castorino!
Bom dia, Dona Filé!

Sentei-me
Na sorveteria
Da esquina
Pra tomar
Um sorvete
De açaí
Ecolhi lugar
Bem estratégico
Uma ampla visão
Eu garanti

Via o pé
De jasmim-manga
Antigo
Via também
O pé de jaracatiá
O coqueiro
O oiti
Sibipiruna
O perfumoso
Manacá

Passou uma pessoa
Apressada
Pensei logo
Quem será?
Quem será?
Não era ninguém
Que eu sorrisse
E dissesse
Oi amigo
Como está?

A palavra saudade
É delicada
Parece estar caindo
Em desuso
Reluto
Quando penso
Empregá-la
Mas há
Ocasiões
Em que é preciso

Como no caso
Que eu contava
Acima
Sobre a tarde
Domingueira
Na sorveteria
Daria tudo
Pra dizer
(Por exemplo)
Boa tarde, Seu João Maria!

terça-feira, 9 de março de 2010

Tatuagem


Mandei fazer
No meu antebraço
Uma tatuagem
De dragão
E
Agora
Morro de medo
Pois
Ele vive
Me olhando
Feio
Ai... Não...