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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O CORVO

Vivia eu
Dia solitário
Dia triste
Cabeça vazia
Pensamento oco
Quando me chegou
Um corvo
(Não sei se lúgubre
Não sei se aziago
Não sei se ogro)
A pedir-me pouso

Explicou:
Vinha de um tempo
Já prescrito
Fora despejado
De uma cripta
Da qual
Tinha documentação
Legalizada
(Firma reconhecida)
Compreendi
(Sei o que é burocracia)
Aquiesci
(Precisava
Mesmo
De companhia)
E lá se foi a ave
Agradecida
Buscar esposa
Buscar concubina

Instalaram-se
Os três
Na minha referida
Caixa craniana
Criaram descendência
(Eu criei dependência)
Ali viveram
(Melhor dizendo:
Ali vivemos)
Até o momento
Em que o espaço
Ficou parco:
Bateram asas
Bateram em retirada

Levando apêndice

Um comentário:

Thales Rafael disse...

Já faz um tempo que não passava por aqui, Zélia. Durante esse tempo, vi inúmeros poetas de ótimos blogs abandonarem o esforço de publicar lirismos. Fico muito contente em retornar ao teu espaço e notar que seu verso continua contundente e certeiro. Adoro seu estilo rápido e cortante. Certas poesias são imersões calmas; as tuas são redemoinhos. Sou um grande admirador. Obrigado por continuar deixando os corvos se instalarem em sua mente.