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segunda-feira, 27 de março de 2017

USINA


Hoje é dia
De inventar alguma coisa
Pra dizer
Que ainda há vida:
Um verso
Uma comida
Uma corrida

Uma toalha tecida
Em nhanduti

Uma flor
De papel e parafina

Um quadro:
Óleo sobre tela
Ou aquarela

Uma visita
Esgrima

Uma lida qualquer
Que transforme tudo
Que está represado
N'algo que não seja
Agonia

3 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Viva Zélia,
continuo lendo e relendo a tua poesia do quotidiano intemporal. Continuo fascinado com a capacidade de síntese e ritmo dos teus poemas grandes de Poesia. Este poema por exemplo que tão bem descreve a necessidade de expressão e o impulso criativo identifica uma das questões paradoxais da obra de arte actual: A arte pode ser feita por qualquer um ou tem de ser o produto de especialistas eruditos.
Eu julgo que a verdade engloba ambas as premissas. Questiono-me ainda que sobraria da arte se não tiver na sua génese a ternura doméstica, a candura privada de fazer um agrado aos que amamos como tu dizes tão bem "uma comida", uma brincadeira "uma corrida"...
O título "Usina" remete para esse conceito latino de oficina doméstica. A casa ou a sua ausência é afinal onde tudo começa. Hoje usina faz-me pensar em grandes construções de produção de energia que no fundo são realizações megalómanas de pequenas coisas funcionais.
Também de forma magnífica identificas essa dor, esse sofrimento, a "agonia" que está subjacente ao acto de criação. Numa imagem que gosto de dar: É o sofrimento da ostra que a faz produzir a pérola.
Basta de escrevinhar o melhor mesmo é ler a Poesia que generosamente nos ofereces. Bem hajas por isso!

chica disse...

Que linda poesia e renovar, criar, inventar ou transformar sempre faz bem...bjs, chica e linda semana!

Artes e escritas disse...

Zélia, grata pela visita ao blog. Escolhi esse poema para comentar porque eu não sabia até agora o que era nhanduti e agora sei que é toalha rendada. Inventar o que fazer é uma atividade prazerosa, seja esporte, colagem ou tecelagem. Um abraço, Yayá.