Este é o espaço onde pretendo registrar meus contos, minhas crônicas e meus versos. Relutei muito antes de criar coragem. Pensava:"Tudo já foi escrito.Tudo já foi publicado."
Acontece, porém, que os pensamentos, os versos, as frases, as palavras , por modestos , por desimportantes que sejam, acabam constituindo um fardo muito pesado. Carreguei o meu até não poder mais. Exausta busquei um lugar onde deitá-lo. Encontrei aqui o sítio ideal.
Em dias Distantes [Anos cinquenta] Apresentou-me Tia Nastácia Dona Benta Falou-me Das reinações De Narizinho E das reinações Que se faziam Em torno De poços De ouro negro
Contou-me Fábulas De lobo E de cordeiro
Abriu as veias Do mundo E da América E Como dois Nemos Mergulhamos Nelas
Fez girar O disco No prato Da vitrola Para Que o cantor Cantasse O mesmo Que lhe ia N'alma: "Vinha vindo" Um samba Tão imenso Que o próprio Tempo Pararia Para ouvir [Mas... Cansado De esperar Olhou-me Com bondade Fechou Os olhos E se foi Partiu}
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Fizemos piqueniques Brincamos carnavais Vibramos em comícios Lemos revistas De guerra Andamos de bicicleta Colecionamos moedas
[Ai Fomos pardais Sem língua Como no conto Chinês]
Juntos Fomos ver o mar Num dia frio E Nevoento De um mês de julho Qualquer
Quando [Apressada] Passo Em caminhada [Tentativa De incinerar Açúcar Colesterol E Triglicérides] Eles Me comovem Com seu Canto: Entoam Árias Óperas E [Quem sabe] Réquiens
Numa Noite Encantada De Vinte e seis De Setembro [Ah Como me Lembro] Papai Noel Extemporâneo Trouxe-me O mais Incrível De todos os Presentes: Encantadora Boneca [Chorava Sorria Falava Andava Fazia Gracinha]
Um dia [Vacilada Minha Piscar De olhos] Sob o toque Da varinha Da fada Madrinha Ela Cresceu
Bem... Hoje Minh'alma [Apressada] Não está Aqui Mas em Kisarazu-shi: Prepara o bolo Recheia Confeita Enrola Brigadeiros [Cinco Receitas] Decora A mesa [Motivo: Princesas]
Antes Mesmo Da hora Comanda O pique-pique Ra-tim-bum Heloísa! Heloísa! Heloísa!
Derrubado O poderio Do sol [Que se Ausenta] Reina A lua [Absoluta] Isenta De qualquer Ponto Obscuro: Tudo é Rebrilho
Aberto O estojo Azul-cerúleo [De seda] Vê-se Ainda Um ou outro Laivo De magenta
A despeito Da cena Lindamente Seca Enxuta Um dilúvio De Tristeza Inunda-me E Redunda Em Lágrimas Que Talvez Ascendam Ao céu E façam As vezes De estrelas...
[Resignada Rumino Tudo Que é Decepção Desengano Lamento: Falta Saliva Falta Suco Gástrico (O bolo Estagnado No Estômago Da alma É chumbo)]
O mundo Nada Me oferece Que não Seja um Espelho Embaçado Em Carcomida Moldura [Sinto-me Até Condoída: Coitado... Há tantos Anos Me atura Refletindo Minha Imagem Cansada Gasta Surrada Puída]
Em verdade Eu o Respeito: Afinal Conhece os Meus medos Meus Sentimentos Segredos... [Contei-lhe Milhares De vezes Deslizes Reveses Da vida]
É Franco Não me Esconde Nada Que seja Realidade: Rugas Cabelos Brancos [Dentes Nem tanto] Olhos Opacos
[Acato Seus Pareceres Seus Veredictos Ultimatos]
Hoje Me fez Surpresa: Mostrou-me No fundo Do abismo Das velhas [E Exaustas] Retinas Minúsculo Ponto De luz...
[Estou Ressabiada: É brilho De espada Ou De cruz?]
Este Meado De inverno Mostra-se Muito Cruel [Não chove Ai Que Triste]
Fazendo Chiste Aborda O hibisco A alamanda O malvavisco E [Irônico] Diz: Vamos ver Quem Pode mais... Vejamos Quem Resiste... [E Maldosamente Ri]
Os três [Coitadinhos] Que podem Fazer? Agonizam
Colibri A tudo Assiste E [Coraçãozinho Mole] Chora: Tri... Tri... Tri...
Bem-te-vi [Compungido] Resume A letra Do seu Canto: Te-vi... Te-vi... Te-vi...
Quero-quero [Que sói Ser Frívolo Barulhento] Vem Lá do lado Dos Meandros Do Rio Pardo E passa [Emudecido Circunspecto] Em meio Ao bando Que rasga O céu Azul Avermelhado Poeirento [Penso: Vão Todos Em Comissão Falar Com São Pedro