
Embaralhar
Cortar
Dar as cartas:
Recomeçar
O jogo
Já
De saída
Adversário
Astuto
Baixa tudo
Toma posse
Do morto
Minha vez:
Nas mãos
Nenhuma
Pequena
Sequência
Nem mesmo
De três
( Ah
Quem me dera
Canastra
De ases )
Descarto
Curinga:
Sequer
Mandinga
Me livra
Do outro
Lado
Há risada:
A batida
( É sempre assim
Quando aceito
Qualquer
Desafio
Da vida )

Tão pobrezinho
O meu
Ideário:
Nada
Que vá
Além
Da primeira
Porta
Nada
Que precise
De comporta
Para contê-lo
Insubstancial
Tal qual
Finíssimo
Fio
De cabelo
Feito
De componentes
Absolutamente
Démodés:
Novelo
De linha
Agulha
De crochê
Bolo de fubá
Café preto
Fantasia
Devaneio
Desvelo
Todavia
Não me causa
Constrangimento...
É o que tenho:
Meu idioleto

Triste
Ver a noite
Chegar
Esgarçada
Com os olhos
Súplices
A pedir
Cerzido
Noite
Toda feita
Em tecido fino
Mas
Já
Bem puído:
Nuvens
Desfiadas
Quanta pena
Sinto!
Não tenho
Sequer
Resquício
De
Habilidade
Para refazê-la
Reparar
A trama
Bordar
Com estrelas
( Em tempo:
Para conferir
Vou olhar
De novo
Que felicidade!
Tudo
Corrigido... )

Logo cedo
Abro a agenda:
Serviço!
Aproveitar
Retalhos
De sábados:
Remendar
Os domingos
Preencher
Superfícies
Dos dias
Vazios
Colorir
Desbotados
Flamingos
Esculpir
Passarinhos
Com cacos
De idílios
Desfazer
Dualismos
Recolher
Os respingos
De perfumes
Antigos:
Borrifar
Em mulheres
Detrás
De postigos
Ou
Devolvê-los
Aos frascos
Respectivos
Usar
Os espaços
Ociosos
Do espírito
Sejam
Ou não
Os seus traços
Concisos

Esta noite
Pensei
Em construir
Uma arca
Chamar
Os bichos
E
Embarcar
Viver
Ali dentro
Uma quarentena
À margem
Da vida
Mas...
Espera!
Como é
Mesmo
Que vivo?

Céu
Cinzento
E
Um resto
De sol
De
Malacacheta
Mussaenda
Ainda
Florida
( Mas
Florada
Já seca )
Andorinha
Chistosa
A rir de mim
Ti ti ti
Ti ti ti
( Sei que sou
Esquisita
Mas...
Tanto assim? )
Pé
De figo-da-índia
Carregadíssimo
Faz
Dualismo:
Dulçor
E
Espinho
Asfalto
Surrado:
Caco de vidro
Azul
Bem clarinho
Lembra-me
Água-marinha
De joia
Perdida
Placa
No muro
Encardido
Da esquina:
Rua Túlio Cristone
O homem
E seu velho
Radinho
De pilha:
Rolling Stones
( Som chiado )
Terreno
Baldio:
Galo
Confuso
A cantar
Tristonho
Encabulado
( Suponho
Que seja
Saudade
E
Saudade
É coisa
Bem séria
Tinhosa
Severa
Contagiosa
Assim
Sendo
Respiro
Com força
E
Sebo
Nas canelas:
Energia
Nas pernas
Aperto
O passo
Tô fora ... )

Tomei
Assento
Na sala
Do banquete:
Ricas
Iguarias
Dispostas
Nas bandejas
E
Finos vinhos
Nas bilhas
Mas
Não sou
Servida
Embora
Esteja
Trajada
Com a veste
Exigida
( A vida
Já viu tudo
Tudo sabe
É ilustrada:
Percebe
Que se trata
De túnica
Emprestada )

Preciso
Arranjar
Saída:
Há
Sempre
Porta
Emperrada
Passagem
Obstruída
Quando
Tento
Passar
Para o lado
Onde
Lucila
A vida

Não gosto
De lesco-lesco:
Se o tempo
Me chama
Em voz alta
Atendo
Haja
Neblina
Ou sol
Escaldante
Estragante
( Raios de
Fogo aceso )
Avanço
Todo dia
É dia letivo
No dia a dia
Da via:
É aí
Que a vida
Ensina
Sobre agapanto
E hortênsia
Sobre inocência
E malícia
Sobre o asteróide
Letícia
Medidas de assimetria
Planta-remédio
Contra mialgia
Os malefícios
De um sanduíche
(E
Até
Quem disse:
Mehr Licht )

Vejo
A rua
Recoberta
Com as flores
Da sibipiruna
Penso
Nas tecelãs
Da Pérsia
Urdindo
Seu tapetes
Em
Sharazade
A tramar
Lentamente
Sua lenda
( Imaginação
É poço
Sem fundo:
Se abusar
Atravessa
O planeta
E sai
Do outro
Lado
Do mundo )