
Ai
Que hoje
Amanheci
Meio
Pero Vaz de Caminha:
Vontade
De escrever
Para
Um rei
Carta
Que contasse
Sobre
A nova
Terra
Minha
Porque
Assumi
[Final
E
Definitivamente]
Esta
Querência
Que
Apesar
De modesta
Na aparência
É
[Para mim
Agora]
O centro
Mundial
Da paz
Aqui
Tudo
Que se faz
É escrever
Poesia
É apurar
Um tacho
De ambrosia
É respirar
Fundo
E
Sentir
O perfume
De gardênia
E a
Maresia
É perder
A mania
De ter
Pressa
É sentar
Lá fora
Abrir
A roda
E jogar
Conversa
Dentro
É olhar
O mar
Imenso
Estender
O braço
[A indicar
Um lado]
E dizer:
Lá
Fica a
África
[Nem
Bem
Acabo
Estas
Maltraçadas
Linhas
E
Penso
Já
No caminho
Marítimo
Das Índias]

Pronto!
Criei
Coragem
E
Ergui
O muro
Mais até:
Muralha
Quase
Réplica
Daquela
Que cerca
A China
[Digo
Quase
Porque
A minha
Não tem
Portas]
Projetei
Desde
O tempo
De menina:
Double face
Como
Uma medalha
O lado
De lá
Soturno
Escuro
Chumbo
[Um ou
Outro
Resquício
De hera
Ressequida]
O lado
De cá
Rosa choque
Vida...

Apago
A luz
E saio
Na ponta
Dos pés:
Não quero
Que
A tristeza
Acorde
E me siga
Como sói
Acontecer
Como se
Fosse
Minha
Sombra
Sempre
Me assombra
Com sua
Presença
Constante
Nos meus
Calcanhares
Colada
Em mim
Vai a todos
Os lugares:
Aos bares
Aos bailes
Altares
Tenta
Colocar-me
Lágrimas
Nos olhos
Mesmo
Quando
Preenchidos
Já
Até o
Gargalo
Olho feio
Para ela
E falo
Falo
Falo
Falo tudo
Que penso
Acerca
De sua
Iniquidade
Enfant terrible
Sacode
Os ombros
[Com blague
Chiste
Facécia]
Faz
Ouvidos
Moucos
E segue
Em frente
No seu
Mister
[Indecente]:
Desestabilizar-me
[Todo cuidado é pouco!]

Alguém
[Com uma
Pedrada]
Quebrou-lhe
A asa:
Agora
Ele se
Estorce
No chão
O gato
[Mal
Intencionado]
Avança
Em sua
Direção
Corro:
Resgato-o
Salvo-o
Trato-o
O tempo
Passa
Rápido:
Logro
Pô-lo
Novinho
Em folha
Conquanto
Seja
Um mero
Passarinho
Mostra-se
Grato
Pelo fato
De
Sentir-se
Inteiro
Como
Dantes:
Alegremente
Pipia
Levo-o
Ao ar livre
Coloco-o
Na palma
Da mão
E ele
Não se faz
De rogado:
Alça
Vôo
Lá se vai
[Entusiástico]
Ruflando
As asinhas
Ai...
Que faço
Agora
Que foi
Embora
Minha
Avezinha?
Tenho medo
Do vazio
Que
Recairá
Sobre
Os meus
Dias
Medo
Da
Solidão
Que se
Avizinha
[Por favor
Volta
Corruíra...]

Quisera
Sentir-me
Incluída
No Kojiki:
Rol das coisas
Antigas
Ser personagem
De conto
Xintoísta
Ou
O Pardal
Reconhecido...
O Santo
Da Província
De Shinano...
De um lado
Ser a tradição
O mito
A lenda
Do outro
Explicitação
Da poesia
Mas não...
Via de regra
Sou cotidiano
E
Vez em quando
[Digamos:
A cada ano
Bissexto]
Um fato
Mais ou menos
Relevante
[Com ênfase
Especial
Para menos]
Na composição
Do meu
Espírito
Não se
Adicionou
[Eu acredito]
Mais que
Um
Miligrama
De
Entendimento
Metafísico
Sou chão raso
Terra batida
Embora
Consiga
Reconhecer
Uma tragédia
E a
Inexorabilidade
Do destino
Adivinho
O gosto
Amargo
Do remorso
Que
[Certamente]
Sentirei
Um dia
[Hoje
Ainda
Não
Consigo]
Atino
Com a
Evanescência
Da vida:
Cada novo
Dia
É dia
Subtraído
Pasmo
Ante o impacto
Daquilo
Que não
Compreendo
Vislumbro
O sofrimento
Como sendo
Fragmento
Extraído
De um
Enredo
Outrora
Escrito
Numa folha
Qualquer
De papiro
E
Espero
O advento
De um tempo
Isento
Do tom
Jocoso
Satírico
Com que
Tem
Me tratado
A existência
Se ele
Não chegar...
Paciência

Por que
Este
Pensamento
Caótico
Amorfo
Nevoento
Vem
Escorrendo
Ao sabor
Do vento
Astral
E
Me persegue
Até
Conseguir
Minha
Captura?
Chega
Esvoaçante
Numa
Espiral
Muito
Confusa
Arvora-se
Em máquina
Do espaço
E do tempo:
Traz
Na bagagem
Uma poeirinha
De Andrômeda
E
Fragmentos
Da galáxia
Dos
Cães de Caça
[Quer ser
Van Gogh
Em
La nuit etoilée]
Carrega
Claridade
De bilhóes
De anos-luz
[Que nenhuma
Complacência
Traduz:
Tudo ofusca
Careço
Apenas
Da
Luminosidade
Tênue
Da chama
De uma vela
Que tremula
Que oscila
Tanto
Quanto
Minha vida]
E um
Primitivo
Átomo
Gigante:
Quer
Que eu
Acredite
Que toda
A criação
Tenha
Consumido
Não mais
Que
Um instante
[Volúvel]
Tenta
Incutir-me
A crença
Na
Possibilidade
De um
Universo
Finito
Finjo
Que acredito
Pego lã
E
Agulhas
Para tecer
[Em tricõ]
Um cachecol
Bem bonito

Abro
[Par em par]
As janelas
Voltadas
Para o meu
Interior
Debruço-me
Numa delas
[Ai
Horror]:
Nenhuma
Flor
Terreno
Crestado
Ressequido
Com
Enorme
Fenda
Através
Da qual
[Aqui
Ali]
Insurge
Um cacto
De minguada
Carne
De farto
Espinho
[Adivinho
O suplício
Que oferece
Ao tacto
E
Incontinenti
Vem-me
À mente
A imagem
De
Uma coroa]
O céu
É mar
De chumbo:
Pesada
Nuvem
Negra
Vaga
À-toa
Companhia
Ideal
Para
Agourenta
Harpia
Que
Voa
Voa
E
Cansada
Pousa no
Esqueleto
Aflito
De uma
Sequóia
[Último
Resquício
De extinta
Flora]
De cujos
Braços
Pendem
Teias
Pegajosas
Há
Sim
[Ao longe]
Largo
E
Caudaloso
Rio
[Galera
Em ruína
Singra]
Mas
Fustiga-me
A verdade
Dura:
O seu leito
Sangra
Bem-te-vi
Bem-te-vi
Bem-te-vi
Ufa!
Ainda bem
[Agora
Quero
Satsanga]

As andorinhas
Voltam
Desatando
Livres
E sonoras
Gargalhadas
Riem de mim:
Não sabem
Que
[Mesmo
Ferida]
Sou fera
Chega de espera...
Cancelo
A agenda
Despejo
O último
Gole
No fundo
Da garganta
Sedenta
Registro
Nas retinas
A chegada
Da noite
Que vem
Vestida
De magenta
[Arranco
As presas
Da sepe
Peçonhenta]
Dou ração
Aos animais
Lacro
A tampa
Do pote
De fel
Confiro
A torneira
Do gás
[E as estrelas
Que surgem
No céu]
Fecho
Parêntesis
Portas
E
Janelas
[Não haverá
Sequelas]
Ademais...
Fui

Não
Aguentei
Mais:
Briguei feio
Com a poesia
[Fazia
Já
Muito
Tempo
Que
Andava mal
Nosso
Consórcio:
Ela
Dizia
Ser
A minha
Vida
Improdutivo
Ócio]
Afrontei
Joguei
Tudo
Contra
A parede:
Quebrei
Pratos
Xícaras
E
Copos
Peguei
Minha mala
Grande
E
Parti
Ela
Ficou lá
Juntando
E
Colando
Os cacos
Tomara
Que
Reconstitua
Alguma
Coisa
Da
Dinastia
MIM
[Se for assim
Eu volto]
Se
Não conseguir
Que invente
Um mosaico...

Uma janela
Aberta
E
Um espelho
Onde
O vermelho
Intenso
Do anoitecer
Vem
Refletir-se
Dão-me
Uma pista:
Deus é fauvista